sábado, maio 31, 2008

31/05/2008 - 20h41

Milicianos seqüestram e torturam equipe de "O Dia" no Rio, diz jornal

Publicidade

da Folha Online

Uma repórter, um fotógrafo e um motorista do jornal "O Dia", do Rio, foram seqüestrados e torturados por milicianos que atuam na favela do Batan (zona oeste do Rio) enquanto faziam uma reportagem, conforme texto que o próprio jornal publica amanhã (1º). O crime ocorreu no último dia 14 de maio. Os profissionais afirmam que há PMs envolvidos no crime.

No texto que denuncia o caso, o jornal informa que comunicou a cúpula da Secretaria da Segurança Pública e que demorou duas semanas para publicá-lo para não atrapalhar as investigações. Segundo o jornal, as três vítimas estão em local seguro.

Conforme "O Dia", a repórter e o fotógrafo moravam na favela havia 14 dias com o intuito de fazer uma reportagem sobre o funcionamento da milícia no local. Naquela noite, o fotógrafo e o motorista aceitaram um convite dos moradores da favela para beber uma cerveja. No local, os dois foram rendidos por dez homens armados encapuzados. Eles foram algemados diante dos moradores e levados para a casa alugada --onde a repórter também foi rendida.

Segundo a reportagem, os milicianos demonstraram em diversas ocasiões que eram PMs.

Os profissionais e um morador --que, para os milicianos, conhecia a identidade dos três-- foram levados a um cativeiro e torturados. "Como nos porões das ditaduras mais sombrias, choques elétricos e sufocamentos com sacos plásticos passaram a ser aplicados até o limite do desfalecimento. Para acordar as vítimas, socos e pontapés. Para deixar o grupo ainda mais apavorado, eles foram levados para quartos separados", afirma o jornal.

Os profissionais foram capturados por volta das 21h e liberados por volta das 4h.

sábado, agosto 04, 2007

Polícia de SP matou um por dia no 1º semestre

Foram 201 mortes até junho; 178 pessoas foram mortas pela PM e 23 pela Polícia CivilNo mesmo período, 15 policiais foram assassinados no Estado, proporção equivalente a um agente por grupo de 13 civis

GILMAR PENTEADOANDRÉ CARAMANTE*

Nos primeiros seis meses do governo de José Serra (PSDB), a polícia paulista matou 201 pessoas, 1,11 por dia. Apesar de menores do que em 2006, quando houve reação policial à onda de violência promovida pelo PCC, os números são superiores a 2005 e revelam, segundo entidades, que a letalidade policial continua alta.Também entre janeiro e junho deste ano, 15 policiais foram mortos, um agente por grupo de 13 civis. "Os números preocupam porque parece que a reação de 2006 continuou tendo reflexo no comportamento letal dos agentes neste ano", afirmou o ouvidor da polícia, Antonio Funari.Segundo estatísticas da Secretaria da Segurança Pública do primeiro semestre de 2007, 178 pessoas foram mortas pela Polícia Militar e 23 pela Polícia Civil. Os policiais envolvidos estavam de serviço ou de folga.Em 2006, ano atípico nas estatísticas -em maio, houve a reação policial aos ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital)-, 341 civis foram mortos pela polícia no primeiro semestre, a maioria em supostos confrontos. Os números de mortos pela polícia em 2007, porém, são superiores a 2005. Naquele ano, 178 pessoas foram mortas pelas polícias Militar e Civil."O problema é que, mesmo descartando 2006, não houve diminuição da letalidade policial nos últimos anos", afirmou Funari. Segundo ele, as estatísticas confirmam uma tendência já verificada pela Ouvidoria.No primeiro trimestre de 2007, o número de denúncias de homicídios envolvendo policias encaminhadas à Ouvidoria quase dobrou em relação ao mesmo período do ano anterior -foram 91 contra 55 em 2006. O homicídio subiu de quinto para terceiro lugar no ranking das denúncias em 2007."A impunidade depois da reação da polícia aos atentados do PCC explica essa letalidade policial alta. Isso serve como carta branca para a polícia continuar matando", afirmou Ariel de Castro Alves, secretário-geral do Condepe (Conselho Estadual da Defesa dos Direitos da Pessoa Humana).Das 341 mortes no primeiro semestre de 2006, 92 ocorreram em maio e foram consideradas pelo governo à época como de integrantes do PCC e que teriam sido mortos quando cometiam ataques. Neste ano, o secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, afirmou que ainda não há comprovação de que os 92 mortos agiam em nome do PCC. Em dezembro, quatro PMs da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) e um empresário viraram réus em um processo pelo seqüestro e morte de dois homens que estão na lista dos 92 suspeitos.
* Gilmar é jornalista da Folha de São Paulo

sexta-feira, julho 06, 2007

PMs participaram de 1/3 das chacinas ocorridas em SP
















São Paulo - Uma em cada três chacinas ocorridas desde janeiro do ano passado em São Paulo teve participação de policiais militares. Das sete que aconteceram este ano na capital, três tiveram PMs entre os autores. Nos dois casos mais graves, nas zonas oeste e norte da capital, morreram sete e seis pessoas, respectivamente. No último ano e meio, ocorreram 28 chacinas na capital - crime em que mais de duas pessoas são assassinadas na mesma ação. O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) esclareceu 19 casos e, em outros dois, deste ano, as investigações estão avançadas. Dessas 21 chacinas, os policiais tiveram participação em sete casos.

O caso mais recente do gênero aconteceu na madrugada de sábado, na Vila Albertina, zona norte, quando seis pessoas morreram. Moradores suspeitam da participação de policiais pelo fato de carros oficiais terem chegado em menos de 15 minutos ao local do crime para retirar os corpos. Entre as balas encontradas na cena da chacina, havia cápsulas de pistola calibre 40, de uso restrito da polícia. O DHPP ainda não esclareceu o crime.

Pelas costas - O caso mais grave envolvendo policiais ocorreu em 1º de fevereiro, no Jardim Elisa Maria, zona norte. Às 20h45, um Fiat Palio, com quatro ocupantes e vidros com película, identificaram-se como policiais e pediram para que sete jovens - quatro deles menores de idade - que conversavam em um escadão virassem de costas, antes de iniciar os disparos com pistolas 380 e calibres 38 e 40. Nenhuma das vítimas tinha ficha criminal. Um sobreviveu.

sexta-feira, junho 29, 2007

Estado de Guerra civil e a crise da modernidade material no Brasil















Moradores do Complexo do Alemão são presos pelo Exército
Será que voltamos a viver um regime de excessões?



Quando se fala em modernidade no Brasil logo se imagina o impulso tecnológico. A modernidade material está, e sempre esteve, em primeiro plano. Nunca é discutida a modernidade social. Tanto que em pleno século XXI, junto com os mais modernos processos tecnológicos ainda temos um Brasil medieval. Andarilhos caminham ao lado de carros importados, e os donos desses carros preferem fechar os olhos, fingindo não ver a desigualdade social que é a principal marca de nosso país. Temos uma industria agropecuária com tecnologia de primeiro mundo, com maquinários computadorizados e guiados por satélites, mas toda a produção é voltada para a exportação. Enquanto isso, milhões de brasileiros ainda morrem de fome todos os anos.
Milhões de brasileiros ainda são obrigados, em pleno século XXI, a vagarem de um lado á outro do país, como nômades em troco de emprego, ou melhor, a troco de um prato de comida.
Os ricos se fecham em seus luxuosos condomínios, que cercados, como castelos medievais, protegem os senhores feudais da pobreza do lado de fora dos muros. Criam centros de consumo e comércio que só eles próprios podem freqüentar, com aspectos que lembram os paises ditos de primeiro mundo. Enquanto aos pobres resta somente saquear as sobras de algum galpão do CEASA incendiado em troco de restos chamuscados de comida.Cria-se cada vez mais uma sociedade baseada na discriminação, não somente racial, mas sim social.
A classe média, consumista, crê na modernidade material, e que está irá salvar suas vidas da miséria que os cerca com novas técnicas de segurança. Mas não percebe que quanto menos perspectivas de vida tiverem os pobres mais a classe média estará ameaçada.
O impacto na modernidade material é desastroso, pois apenas uma minoria da população tem condições para comprar bens materiais. O restante da população vive em um constante clima de guerra civil disfarçada de combate ao crime. Já percebemos isso em grandes cidades, onde cada vez mais as campanhas antiviolência buscam ressaltar o valor da vida humana. Porém, essas campanhas só acontecem quando as vitimas da violência fazem parte da classe média. Algumas dezenas de jovens morrem por semana vítimas da violência nas grandes cidades e não entram nos noticiários por não serem filhos de gente influente, e nem fazem parte da classe média consumista. Ou seja, este processo de violência serve para limpar a sociedade dos “marginais” da sociedade, isto é o extermínio das pessoas que não fazem parte do mercado de consumo. Este é o holocausto brasileiro.
O holocausto brasileiro é esta guerra civil disfarçada. E a guerra civil já esta acontecendo. Podemos ver o exercito nas ruas de alguns grandes centros, e o exercito só pode ser acionado em casos de segurança nacional, de invasão externa ou em casos de guerra civil. O exercito esta matando nosso próprio povo porque as pessoas não conseguem perceber que o verdadeiro inimigo não é o pobre, favelado, marginalizado, mas sim o sistema que exclui, que explora e que legitima que só uns poucos tenham o direito a vida.
Guerra Civil no Rio de Janeiro
se intensificará durante o Pan












No dia 13 de julho, tem início os Jogos Panamericanos 2007, no Rio de Janeiro. Um grande show midiático vem sendo armado, desde o ano passado, em torno da realização do evento, com direito a eleição do nome do mascote dos Jogos e muitos minutos diários nos telejornais mais vistos do Brasil.
Mas, ao contrário do que se quer promover, os Jogos Panamericanos não têm trazido só festa e esporte para a cidade. Os problemas que envolvem a realização do Pan são inúmeros e estão menos ligados ao atraso das obras do que à vida cotidiana dos moradores e moradoras de favelas e comunidades pobres da cidade.
A segurança tem sido o assunto mais importante, não apenas para os organizadores do evento, mas principalmente para aqueles que tem sofrido com os investimentos bilionários: os moradores/as de favelas. Desde o início do ano, as operações da Polícia Militar tem se intensificado, com o auxílio ainda da Força Nacional de Segurança, que veio especialmente para o Panamericano. Um exemplo - não o único, mas o que mais tem ocupado os noticiários - é o caso do Complexo do Alemão (veja mais I e II III), onde as aulas das escolas da região foram paralisadas e mais de 20 pessoas já morreram. Mas ao contrário do que a mídia corporativa propaga, o cerco ao local não intimida o tráfico, e "sem prisões ou apreensões de armas ou drogas, o que se conseguiu até agora foi vitimar moradores, atingidos pelas chamadas 'balas perdidas'".
Como se a situação já não fosse trágica o suficiente, durante os Jogos, o Rio de Janeiro estará sob Estado de exceção. Isso significa que nenhuma manifestação pública poderá ser feita sem o aval da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública). Além disso, agentes secretos de diversos países (incluindo a CIA, dos Estados Unidos) estarão auxiliando nesta tarefa. A própria Abin afirmou que organizadores "profissionais" de manifestações podem ser monitorados durante o tempo todo.

Famílias acusam polícia de matar inocentes no Rio

SERGIO TORRES
MÁRCIA BRASIL
da Folha de S.Paulo, no Rio
MALU TOLEDO
Colaboração para a Folha de S.Paulo, no Rio

Familiares de vítimas dos 19 mortos em ação no complexo do Alemão, na zona norte do Rio, acusaram a polícia de ter matado inocentes e feridos já sem possibilidade de reação. Três adolescentes de 13, 14 e 16 anos estão na lista oficial dos mortos por policiais.

Nove dos 19 mortos foram identificados. Ontem, a operação no Alemão completou 57 dias, somando 44 mortos, segundo o governo.

Na portaria do IML, parentes queixavam-se. Maria de Fátima de Paula disse que o filho Bruno de Paula Gonçalves, o Maluquinho, 20, foi assassinado por um policial que o retirou de uma casa, onde se escondera após receber o primeiro tiro.

Ela disse desconhecer se o filho era traficante, mostrou uma carteira de estudante dele e disse que o filho era catador de sucata, mas não garante o que ele fazia. "Quando um filho sai, a gente não sabe onde vai."

A família de David Souza e Lima, 14, disse que o menino era traficante. A irmã, identificada apenas como Tatiana, afirmou ter ouvido no hospital que sete tiros atingiram uma perna e cinco a outra. Os outros adolescentes mortos são Maxwell Vieira da Silva, 16, e Leandro Serrati Gualtero, 13.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), João Tancredo, baseado em relatos de moradores, disse que a polícia cometeu "um massacre de civis" durante a operação.

Em Londres, Patrick Wilcken, ativista da Anistia Internacional, criticou a ação, na BBC. "Foi uma operação violenta e caótica, mas, acima de tudo, de reação e não pró-ativa."

Tancredo, que percorreu o complexo de manhã, avistou pelo menos três traficantes com "armas longas". O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que participava de outro grupo de visita, também disse ter encontrado traficantes armados e nenhum policial.

O deputado falou até em mortos a facadas, embora não tenha indicado nomes.

O diretor do IML, Hélio Feldman, negou que tenha havido mortes por armas como facas e punhais. Segundo ele, todos os 19 morreram a tiros. Os laudos só serão divulgados na semana que vem.

A Secretaria de Segurança vetou a presença de um médico indicado pela OAB na perícia. O veto indignou Tancredo, que disse temer que laudos sejam forjados de modo a simular que as mortes ocorreram em tiroteios. Segundo ele, só oito dos 19 eram realmente traficantes.

O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, em entrevista, e a Chefia de Polícia Civil, por meio de nota, reafirmaram que as mortes ocorreram em confrontos. O governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) voltou ontem de Portugal, mas não deu declarações.

domingo, janeiro 14, 2007

Governo dos EUA sabia de tortura no Brasil

Embaixador detalhou violações dos direitos humanos, mas sua prioridade eram os ganhos na venda de equipamento militar

"Negar assistência não faria com que o Brasil mudasse de idéia ou abandonasse seus esforços de segurança", dizia na época John Crimmins

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Documentos secretos do serviço diplomático americano no Brasil do biênio 1973-1974, liberados ao público após 32 anos, revelam que a administração do presidente Richard Nixon (1969-1974) foi informada em detalhes sobre as torturas e os abusos contra direitos humanos na ditadura, mas não tornou os fatos públicos.
A pressão americana contrária aos abusos só passou a ocorrer na administração de Jimmy Carter (1977-1981). Entre 1974 e a posse de Carter, foram mortos ou considerados desaparecidos pelo menos 89 militantes da esquerda no Brasil.
Num dos telegramas liberados, intitulado "Presos Políticos", o embaixador em Brasília, John Hugh Crimmins, hoje com 87 anos e vivendo em Maryland (EUA), recomendou que o governo Nixon não usasse contra o governo brasileiro o art. 32 da Lei de Assistência ao Estrangeiro, embora o próprio relatório reconhecesse que isso era legalmente possível.
Por essa regra, os EUA poderiam cortar créditos financeiros ao Brasil em retaliação a supostos abusos contra direitos humanos. Na época, os EUA financiavam programas de cooperação militar e de combate a narcóticos. "Negar assistência não faria [fará] com que o Brasil mudasse de idéia ou abandonasse seus esforços de segurança interna na esperança de reconquistar nossas boas graças; levaria [levará] um Brasil indignado a rejeitar de vez quaisquer esforços dos EUA para melhorar a situação", escreveu Crimmins em seu relatório de 1974.
Dois meses após a primeira recomendação, Crimmins bateu na mesma tecla. Num longo telegrama -de 15 páginas- intitulado "Avaliação do embaixador sobre assistência de segurança dos EUA", ele fala em manter todos os programas de ajuda ao Brasil com a estratégia específica de "influenciar a política brasileira".
"O programa norte-americano de assistência à segurança do Brasil é uma ferramenta essencial aos nossos esforços de influenciar a política brasileira. O programa vem sendo efetivo em começar a restabelecer os EUA como fonte primária de equipamento, treinamento e doutrina para as Forças Armadas do Brasil. Interessa-nos muito, porém, consolidar e expandir nossos ganhos recentes na provisão de equipamento militar ao Brasil", afirma.
Os telegramas mostram que de fato o assunto "direitos humanos" tinha ínfimo espaço nas relações diplomáticas entre Brasil-EUA. Num relatório de seis páginas que narrou um almoço ocorrido em 28 de setembro de 74 entre o então secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, e o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Antônio Francisco Azeredo da Silveira (1917-1990), o tema mereceu apenas um parágrafo, e assim mesmo na forma de uma crítica do governo brasileiro: "Direitos humanos. O ministro do Exterior advertiu que os Estados Unidos podem estar "desmoralizando" os direitos humanos ao torná-los uma questão política".

A "costura"
Os telegramas demonstram que os americanos tinham fontes no aparelho da repressão que podiam até mesmo oferecer narrativas dramáticas sobre assassinatos a sangue-frio.
"Outra fonte, informante profissional e interrogador que trabalha para o centro de inteligência militar em Osasco (subúrbio industrial de São Paulo), nos contou em 24 de abril sobre suas atividades "contra-subversivas". (...) Ele também fez um relato em primeira mão sobre a morte de um suspeito de subversão, o que ele designou como "costurar" o suspeito, isto é, disparar uma arma automática contra ele formando uma trilha de balas da cabeça aos pés. (Maiores detalhes em memorando de 26 de abril sobre essa conversação.) Ao longo do ano passado, diversas autoridades de segurança confirmaram que suspeitos de terrorismo são mortos como procedimento padrão. Estimamos que até 12 tenham sido mortos na região de São Paulo, no último ano", diz o telegrama de maio de 73, um ano antes das recomendações do embaixador Crimmins.
O nome desse assassino, se em algum lugar foi anotado, não consta dos papéis liberados. O autor do telegrama foi o cônsul americano em São Paulo Frederic Chapin, morto por câncer aos 59 anos, em 1989.
Chapin também relatou uma onda de violência desencadeada pela ditadura contra integrantes do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), fundado em 1969 por um grupo de professores, entre os quais o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
O relatório tem como foco a prisão do economista Paul Singer, pai do atual porta-voz da Presidência da República, André Singer.
"Outro membro do Cebrap (...), Vinícius Caldeira [Brant, sociólogo, morreu em 1999], foi detido em 19 de setembro, pouco depois de Singer, e severamente torturado por choques elétricos, naquela noite. Singer disse ter ouvido gritos, naquela noite, e que depois foi informado de que se tratava de Caldeira", escreveu Chapin.
O autor da maioria dos telegramas foi o então embaixador, Crimmins. Localizado por telefone pela Folha, disse que não gostaria de se manifestar sobre seu trabalho como embaixador no Brasil (1973-1978).
"Não li os documentos que acabaram de ser liberados. Então não posso comentá-los em detalhes, especificamente, depois de 30 anos", disse Crimmins. Indagado se gostaria de receber cópias, o embaixador disse que não, e que no momento estava muito ocupado e precisava desligar o telefone.
Procurada, a Embaixada norte-americana em Brasília não havia se manifestado até a noite da última sexta-feira.

Leia mais telegramas do período 1973-1974, traduzidos pela Folha, em http://www.folha.com.br/070122

segunda-feira, janeiro 08, 2007






Tu sabes,
conheces melhor do que eu a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

(Bertold Brecht)

segunda-feira, dezembro 18, 2006


A burguesia se mobiliza para que???

Para assistir TV e ver seu time ser campeão de que??
Enquanto você esta na frente de sua TV os corruptos ficam 91% mais ricos e os pobres 91% mais pobres...

E viva o seu time campeão...
Pão e circo para a população...

Mas o povo esta revoltado
E os dias de fartura da burguesia estão contados
E quem começará a insurreição não serão os militantes,
mas sim o povo inconformado...
Estudantes tentam invadir sede da Prefeitura de SP em dia de protestos

da Folha Online

Estudantes que protestavam contra o recente aumento da tarifa dos ônibus municipais de São Paulo --de R$ 2 para R$ 2,30-- tentaram invadir a sede da prefeitura nesta segunda-feira, na região central. O grupo --cerca de 40-- entrou com confronto com a PM (Polícia Militar) e a GCM (Guarda Civil Metropolitana), que usou spray de pimenta para dispersá-lo.

No final da manhã, estudantes desceram de um ônibus que trafegava pela faixa preferencial, na avenida Paulista, e perfuraram seus pneus. O ônibus ficou parado em frente ao parque Trianon por cerca de uma hora. Usando narizes de palhaço, eles protestavam não apenas contra o aumento da tarifa, mas também contra o aumento do salário dos parlamentares.

Durante toda a manhã, houve outra manifestação em frente à sede da prefeitura, também ligada ao transporte público. Cerca de cem perueiros fizeram uma manifestação contra as mudanças no contrato de renovação do programa Vai-e-Volta, que oferece transporte a alunos da rede pública que moram na periferia.

No começo da tarde, mais manifestantes chegaram à prefeitura. Eram publicitários que, por meio de carros de som, protestavam contra a lei que pretende retirar todos os outdoors da cidade, segundo informações da assessoria de imprensa da própria prefeitura.

------------------------------------------------------------------------------------------------

Comentário:

Essa é a cara da nossa democracia.Onde está o direito do povo protestar contra os absurdos do governo?? Depois ainda dizem que o governo é eleito pelo povo e para o povo.
Pois é, a ditadura não acabou ela se mascarou!!

Presa em flagrante, mulher diz que esfaqueou ACM Neto por causa de reajuste

ABRIELA GUERREIRO
FELIPE NEVES
da Folha Online, em Brasília e São Paulo


A mulher que esfaqueou o deputado federal Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), na tarde desta segunda-feira, foi presa em flagrante e autuada por tentativa de homicídio, segundo o delegado titular do 16º DP de Salvador, Wilson Ramos.

Em seu depoimento, Rita de Cássia Sampaio de Souza, 45, mencionou como razões para o ato o reajuste de 91% concedido aos parlamentares e um descontentamento geral com relação aos políticos brasileiros.

Para Ramos, no entanto, Rita se contradisse por diversas vezes e demonstrou "desequilíbrio emocional".

O incidente aconteceu às 12h40. Segundo o delegado, Rita usou uma peixeira para agredir o deputado. O golpe foi desferido pelas costas. Ele passa bem e está em observação no Hospital da Bahia.

No momento do ataque, o deputado deixava seu escritório acompanhado de amigos quando ela disse que queria falar com ele, se aproximou e desferiu o golpe.

A secretária de ACM Neto viu pela janela o ocorrido e acionou a polícia e uma ambulância para prestar socorro ao deputado.

Rita já foi encaminhada ao presídio feminino de Salvador, onde ficará presa até que seja julgada.

O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) estava discursando no plenário do Senado quando recebeu a notícia pelo celular do ataque ao seu neto.

Comentário:

Pena que essa não seja uma atitude comum a todos os brasileiros. Se todos tivessem a coragem de agir como essa mulher tenho certeza que os corruptos do poder nunca mais tomariam decisões absurdas como o aumento de 91% de seus salários.

Rita de Cássia Sampaio para mim é uma heroína, é o retrato da indignação do povo brasileiro, é a mostra da coragem. E sua prisão reflete a covardia que é cometida contra nosso povo todos os dias, ou seja, aqueles que tem coragem de lutar pelo que acham correto são duramente repreendidos.

Claro que a mídia tentará mostrar essa guerreira como sendo uma desequilibrada, pois a mídia está a serviço dos corruptos de Brasília. Vale lembrar que a família ACM é que domina o mercado de telecomunicações na Bahia, então é lógico que irão tratar essa heroína como desequilibrada. Mas, para mim, desde já assumo a bandeira: “Liberdade já para Rita de Cássia Sampaio!!!!!!”

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Carta de Michael Moore ao povo Americano


"Amigos,

Hoje (27/11) marca o dia em que permanecemos no Iraque mais tempo que aquele que levamos para combater na Segunda Guerra Mundial.

É isso mesmo. Nós fomos competentes para derrotar a Alemanha Nazista, Mussolini e o Império Japonês inteiro em menos tempo que a única superpotência mundial gastou para tentar tornar segura a estrada que liga o aeroporto de Bagdá ao centro da cidade.

E nós não conseguimos fazer isso. Após 1.437 dias, no mesmo tempo que levamos para irromper pela África do Norte, conquistar as praias da Itália, conquistar o Pacífico Sul e libertar toda a Europa Ocidental, nós não pudemos, após 3 anos e meio, conquistar sequer uma simples estrada e proteger a nós mesmos de bombas caseiras, feita de latinhas, colocadas em buracos nas rodovias. Sem contar que uma viagem de táxi do aeroporto até Bagdá, de 25 minutos, custa 35 mil dólares e o motorista não te dá sequer um mísero capacete para sua proteção.

A culpa desse fracasso se deve a nossas tropas? Dificilmente. Não importa o quanto de tropas, de helicópteros ou de democracias nós cuspamos das nossas armas, nada irá "vencer a guerra no Iraque". Ela é uma guerra perdida. Perdida porque jamais teve o direito de ser vencida, perdida porque começou por homens que jamais estiveram em uma guerra, homens que se escondem atrás daqueles que foram enviados para lutar e morrer..

Vamos ouvir o que o povo iraquiano está dizendo, de acordo com uma pesquisa recente feita pela Universidade de Martland:

- 71% de todos os iraquianos querem os EUA fora do Iraque.

- 61% de todos os iraquianos apóiam os ataques da resistência contra as tropas americanas.

Sim, a vasta maioria dos cidadãos iraquianos acham que nossos soldados devem ser mortos e massacrados!

Então, o que diabos nós ainda estamos fazendo lá? Vamos interpretar como se não tivessemos compreeendido a deixa?

Existem diversos modos de libertar um país. Freqüentemente os cidadãos se rebelam e se libertam a si próprios. Foi assim que nós fizemos.

E você também pode fazer isso de modo não violento, usando a desobediência civil. Foi assim que a Índia fez.

Você pode também fazer com que o mundo inteiro boicote o regime de um país até que ele caia no ostracismo e capitule.

Foi isso que aconteceu com a África do Sul.

Ou, você pode simplesmente esperar que eles cansem e caiam fora, cedo ou tarde, como as legiões do rei fizeram (Algumas só porque estavam com muito frio). Isso aconteceu no vizinho Canadá.

O único modo que não funciona é invadir um país e dizer a seu povo "Estamos aqui para libertar vocês", enquanto eles não faziam nada para libertar-se.

Onde estavam todos esses homens suicidas enquanto Saddam Hussein oprimia o povo?

Onde estavam os "insurgentes" que plantam bombas nas estradas quando o comboio do maligno Saddam Hussein passeava por elas?

E acho que o velho Saddam era um déspota cruel - mas não tão cruel a ponto de milhares arriscarem seus pescoços contra ele.

"Ah não Mike, eles não podiam fazer isso! Saddam os mataria!" Sério? você acha que o rei George não mataria quem se insurgisse contra ele?

Você acha que Patrick Henry e Tom Paine tinham medo? Isso não os impediu de lutar.

Quando dezenas de milhares de pessoas não têm a inclinação de sair às ruas e derramar seu sangue para remover um ditador, isso deve servir como uma boa pista de que eles não estão desejando participar de alguma libertação promovida de fora.

Uma nação pode ajudar outro povo a remover um tirano (Foi o que os franceses fizeram por nós em nossa revolução), mas depois disso, você cai fora. Imediatamente! Os franceses não ficaram e nos disseram como deveriamos constituir nosso governo.

Eles não disseram "não estamos indo embora porque nós queremos os seus recursos naturais".

Eles nos deixaram à nossa própria sorte e nós levamos seis anos para fazer uma eleição depois da partida deles.

E daí tivemos uma sangrenta guerra civil. Isso foi o que aconteceu e a História está cheia desses exemplos. Os franceses não disseram:

"Oh, é melhor ficar na América, de outro modo eles vão se matar uns aos outros discutindo essa história de escravagismo".

O único caminho que leva uma guerra de libertação ao sucesso é ter por trás dela o apoio de seus próprios cidadãos - e um numeroso grupo de Washingtons, Jeffersons, Franklins, Gandhis e Mandelas liderando a insurreição. Onde estão esses faróis da liberdade no Iraque?

Essa é uma piada e tem sido uma piada desde o início. Sim, nós eramos a piada, mas com 655.000 iraquianos mortos como resultado da nossa invasão

- segundo a Universidade John Hopkins - eu acho que a piada de mau gosto agora é deles. Pelo menos eles foram libertados, permanentemente.

Por isso não quero ouvir nenhuma outra palavra sobre enviar ainda mais tropas (acorda Estados Unidos, John McCain está maluco!), ou sobre "realocá-las", ou esperar mais quatro meses para começar a " vencer o prazo" delas.

Só existe uma única solução e ela é simples: retirada! Agora. Comecem hoje à noite. Vamos cair fora de lá o mais rápido que pudermos.

Quanto mais pessoas de boa vontade e consciência não quiserem acreditar nisso, quanto mais mortes nós teremos para aceitar a derrota, nada poderemos fazer para reparar o dano que cometemos. O que aconteceu, aconteceu.

Se você dirigiu bêbado, atropelou e matou uma criança, não haverá nada no mundo que você possa fazer para devolver a vida àquela criança.

Se você invadiu e destruiu um país, lançando o povo a uma guerra civil, não há nada que você possa fazer até que a fumaça dissipe e o sangue derramado seque. Então, talvez, você possa acordar e ver a atrocidade que cometeu e depois ajudar os sobreviventes a tentar melhorar suas vidas.

A União Soviética caiu fora do Afeganistão em 36 semanas. Saíram assim e tiveram perdas pesadas na retirada.

Eles compreenderam o erro que cometeram e removeram suas tropas.
Depois, veio uma guerra civil. Os maus venceram.

Mais tarde, nós derrubamos os maus e tudo viveu melhor depois disso. Veja! No fim, a coisa funciona!

A responsabilidade pelo fim dessa guerra cabe agora aos democratas. O Congresso puxa as cordinhas e a Constituição diz que só o Congresso pode declarar a guerra. O senhor Reid e a senhora Nancy Pelosi têm agora o poder para colocar um fim a essa loucura. Se fracassarem nisso, a ira dos eleitores recairá sobre eles. Nós não estamos brincando senhores democratas e se vocês não acreditam em nós, toquem em frente e continuem essa guerra por outro mês. Nós lutaremos contra vocês ainda mais forte que fizemos contra os republicanos. A página de abertura de meu site na Internet tem uma foto de Nancy Pelosi e Henry Reid, feitas a partir de fotos de soldados americanos que morreram lutando a Guerra de Bush.

Mas que será a partir de agora a Guerra de Bush contra os
Democratas, a menos que alguma outra rápida ação seja tomada.

Essas são nossas exigências:

1 - Tragam as tropas para casa já! Não em seis meses. Agora!
Deixem de procurar um meio de vencer. Nós não podemos vencer. Nós perdemos.

Às vezes se perde. Essa é uma dessas vezes. Sejam corajosos e admitam isso.

2 - Peçam desculpas a nossos soldados e façam melhor. Digam a eles que nos desculpem porque eles foram usados para lutar uma guerra que não tinha nada a ver com a nossa segurança nacional. Nós precisamos assegurar que cuidaremos deles e que eles sofrerão o mínimo possível. Os soldados incapacitados física e psicologicamente receberão os melhores cuidados e uma compensação financeira significante. As famílias dos soldados que morreram merecem as maiores desculpas e precisam ser cuidadas para o resto das suas vidas.

3 - Devemos nos expiar das atrocidades que perpetramos contra o povo do Iraque. Há poucos males piores que fazer a guerra baseados em uma mentira, invadir outro país porque você quer o que é deles e que está enterrado no solo. Agora muitos mais irão morrer. Seu sangue estará em nossas mãos, não interessa em quem votamos. Se você paga impostos, contribuiu para os 3 bilhões de dólares por semana que gastamos para levar o Iraque para o Inferno onde está o país agora. Quando a guerra civil tiver terminado, nós deveremos ajudar a reconstruir o Iraque.

Nós não podemos nos redimir se não fizermos isso.

Por último, há uma coisa que eu sei. Nós, americanos, somos melhores do que as coisas que fizeram em nosso nome. A maioria de nós ficou estarrecida e zangada com o que aconteceu em 11 de setembro e perdeu a cabeça. Nós não pensamos direito e jamais olhamos um mapa.

Porque somos mantidos na estupidez graças ao nosso sistema patético de educação e à nossa mídia preguiçosa, não sabemos nada de História.

Nós não sabemos que somos os caras que financiaram e armaram Saddam Hussein por muitos anos, inclusive quando ele massacrou os curdos.

Ele era o nosso cara. Nós não sabíamos o que era um sunita ou um xiita, sequer havíamos escutado essas palavras.

De acordo com o National Geographic, 80% dos adultos do nosso país não sabem localizar o Iraque no globo terrestre.

Nossos líderes jogaram com nossa estupidez, nos manipularam com suas mentiras e nos amedrontaram até a morte.

Mas, no fundo, somos um povo de bom coração. Aprendemos devagar, mas a bandeira de "missão cumprida" nos atingiu de modo ímpar e cedo começamos a fazer algumas perguntas.
Depois, começamos a ficar espertos. No último dia 7 de novembro, nós ficamos loucos e tentamos consertar nossos erros.

A maioria agora conhece a verdade. A maioria agora sente uma tristeza e culpa profundas e uma esperança de qualquer coisa que seja feita, será melhor e colocará tudo nos eixos.

Infelizmente, não é assim. Então precisamos aceitar as conseqüências de nossas ações e fazer o melhor para que o povo iraquiano possa até pensar em pedir auxílio a nós no futuro. Pedimos a eles que nos perdoem.

Pedimos aos democratas que nos escutem e que saiamos do Iraque agora!

Do seu,

Michael Moore".

terça-feira, dezembro 05, 2006

Regras de Rogers a serem observadas nos serviços de expedição
Os Rangers lutavam seguindo à risca o manual escrito pelo major Rogers

I. Todos os Rangers serão submetidos às regras e artigos de guerra; devem comparecer ao toque de chamada todo anoitecer para a revista de tropa, cada um equipado com um mosquete, seis munições de pólvora e balas, além de uma machadinha, toda vez que um oficial de cada companhia for inspecioná-los, para ver se estão em ordem e prontos para qualquer emergência, a fim de marcharem ao tempo de um minuto em caso de aviso; e antes de serem dispensados serão destacados os vigias necessários e selecionados os expedicionários para o próximo dia.

II. Sempre que vocês forem enviados para inspecionar e investigar fronteiras ou fortes inimigos, se estiverem em número pequeno devem marchar em fila indiana, mantendo entre um homem e outro uma distância que impeça um único tiro de matar dois homens; devem mandar um ou mais homens adiante, de número igual para cada lado, numa distância de vinte jardas (18,28 metros) da força principal; se o solo por onde estiverem caminhando permitir, eles devem dar ao oficial responsável o sinal da aproximação do inimigo, bem como seu número de homens e outras informações necessárias.

III. Se vocês marcharem sobre pântanos ou terras não firmes, mudem sua posição e andem lado a lado para evitar que o inimigo possa rastreá-los (como eles fariam se vocês estivessem em fila indiana) até saírem deste solo, e então retomem sua prévia ordenação; marchem até pouco antes do anoitecer antes de acampar, preferencialmente num terreno que permita a seus sentinelas ver ou ouvir o inimigo de uma distância considerável, mantendo sempre metade do destacamento acordado, alternadamente, durante toda a noite.

IV. Antes de chegarem ao ponto em que devem fazer o reconhecimento, façam uma parada e mandem um ou dois homens de confiança para procurar o melhor terreno para realizar as observações.

V. Se tiverem a boa sorte de fazer prisioneiros, mantenham-nos separados até que sejam revistados; no retorno, sigam por uma rota diferente daquela pela qual saíram; isso os permitirá descobrir mais facilmente se existe algum destacamento em sua retaguarda; e, se a força do inimigo for maior que a sua, terão assim uma oportunidade para alterar seu curso, ou dispersar, conforme as circunstâncias exigirem.

VI. Se estiverem marchando numa grande formação, de trezentos ou quatrocentos homens, com o desígnio de atacar o inimigo, dividam o destacamento em três colunas, cada uma com seu comandante próprio; cada coluna deve marchar em fila indiana, as da esquerda e da direita mantendo vinte jardas ou mais de distância daquela do centro, se o terreno assim permitir; e mantenham vigias à frente e à retaguarda, bem como grupos de cobertura a uma distância apropriada, com ordens de parar em todo cume que houver pelo caminho para inspecionar o território em volta, prevenir emboscadas e notificar a aproximação ou retirada do inimigo; tais disposições podem ser realizadas tanto no caso de vocês estarem atacando ou se defendendo. E se o inimigo se aproximar à sua frente num terreno de nível mais alto, formem um front com suas três colunas ou força principal mais a guarda avançada, mantendo afastados os grupos de cobertura, como se vocês estivessem marchando sob o comando de oficiais de confiança; isso será feito para prevenir o inimigo de pressioná-los em qualquer um de seus flancos, ou de cercá-los, o que é o método usual dos selvagens, se o número deles assim permitir; e sejam igualmente cuidadosos em reforçar a sua linha de retaguarda.

VII. No caso de um tiroteio inimigo, caiam ou agachem-se ao solo até que esteja terminado, então levantem-se e disparem neles. Se a força principal do inimigo for igual à sua, estendam-se ocasionalmente; mas se for superior, cuidem para reforçar seu grupo de cobertura, para equipará-lo ao deles, se possível repelindo-os para sua força principal; em todo caso, invistam contra eles com grande determinação, com igual força em cada flanco e no centro, com o cuidado de manter distância apropriada uns dos outros, e avancem de três em três, metade do destacamento à frente, com distância de dez a doze jardas da outra metade. Se o inimigo investir contra vocês, deixem a linha de frente atirar e cair ao chão, e então deixem a linha de retaguarda avançar e fazer o mesmo; nesse meio-tempo, os homens da linha de frente estarão prontos para disparar novamente, e repitam o mesmo procedimento alternadamente, conforme a ocasião; desta maneira vocês manterão tal tiroteio constante que o inimigo não será capaz de ganhar terreno facilmente.

VIII. Se vocês obrigarem o inimigo a recuar, tenham o cuidado de, durante sua perseguição a ele, manter os grupos de cobertura afastados e evitar que o inimigo conquiste algum cume ou terreno mais elevado, o que o permitirá contra-atacar.

IX. Se vocês forem obrigados a recuar, deixem a linha de frente de todo o destacamento atirar de volta e cair novamente ao chão, até que a retaguarda tenha feito o mesmo, ganhando o máximo de terreno; desta maneira, se o inimigo os perseguir, eles o farão sob tiroteio constante.

X. Se o inimigo for tão superior ao ponto de haver perigo de cercá-los, dispersem todo o destacamento; cada homem deverá voltar por um caminho diferente ao ponto de encontro escolhido para aquela noite, e este ponto deve ser alterado e determinado a cada manhã para a noite seguinte, a fim de juntar toda a tropa, ou o quanto dela for possível, após uma eventual separação ao longo do dia; mas se acontecer de vocês de fato estarem totalmente cercados, façam uma formação em quadrado, ou em círculo se estiverem em mata fechada, e, se possível, fiquem parados até que a escuridão da noite facilite a escapada.

XI. Se a linha de retaguarda for atacada, a força principal e as coberturas devem voltar-se para a esquerda ou para a direita, conforme a ocasião, e formarem-se em oposição ao inimigo; e o mesmo método deve ser aplicado caso vocês sejam atacados em qualquer de seus flancos; desta maneira, formarão uma nova retaguarda com um dos grupos de cobertura.

XII. Se vocês decidirem reagrupar-se depois de uma retirada, a fim de realizar uma nova investida contra o inimigo, esforcem-se de todas as maneiras para fazê-lo no solo mais elevado que encontrarem, o que lhes dará uma situação de grande vantagem e lhes permitirá repelir tropas de número superior.

XIII. No geral, quando forem repelidos pelos inimigos, reservem sua munição até que eles se aproximem bastante, o que causará neles grande surpresa e temor, dando a vocês a oportunidade de atacá-los com larga vantagem, usando seus cutelos e machadinhas.

XIV. Quando acamparem à noite, estabeleçam suas sentinelas de maneira a não serem auxiliadas pela força principal até o amanhecer; segredo e silêncio profundos são de vital importância nesses casos. Cada sentinela, por sua vez, deve ser composta de seis homens, dos quais dois devem manter alerta constante e, quando dispensados por seus companheiros, isso deve ser feito em absoluto silêncio; no caso de aqueles em serviço virem ou ouvirem qualquer coisa que os alarme, não devem falar: um deles deve se retirar silenciosamente e comunicar o fato ao comandante para que as disposições cabíveis sejam tomadas. E todas as sentinelas ocasionais devem ser compostas da mesma maneira.

XV. Nos primeiros sinais do amanhecer, despertem todo o destacamento; esta é a hora que os selvagens escolhem para investir contra seus inimigos, e por isso vocês devem sempre estar prontos para recebê-los.

XVI. Se os inimigos forem descobertos pelo destacamento ao amanhecer, e seu número for superior ao de vocês, e uma vitória for duvidosa, não devem atacar até o anoitecer; assim eles não saberão em quantos vocês são, ou se estão acuados; sua investida será favorecida pela escuridão da noite.

XVII. Antes de deixar o acampamento, enviem pequenos grupos para inspecionar em volta, para ver se há alguma aparição ou rastro do inimigo que mostre que eles estiveram por perto durante a noite.

XVIII. Quando pararem para descanso, se puderem escolham uma nascente ou um riacho e disponham a tropa de maneira a não serem surpreendidos, colocando vigias e sentinelas numa distância apropriada, e montem um pequeno grupo para ficar de tocaia no caminho por onde vieram, a fim de que o inimigo não possa segui-los.

XIX. Se, durante sua volta, vocês tiverem que cruzar rios, evitem ao máximo as margens rasas, pois os inimigos podem estar esperando por vocês nesses locais.

XX. Se vocês tiverem que margear lagos, mantenham alguma distância da beira da água, evitando alguma emboscada ou ataque inimigo; nessa situação, a única retirada será a morte.

XXI. Se o inimigo estiver em seu encalço pela retaguarda, formem um círculo para depois retomar sua própria rota, e assim realizar uma emboscada para recebê-los e investir com os primeiros disparos.

XXII. Quando estiverem voltando de um reconhecimento de campo, e estiverem chegando perto de nossos fortes, evitem as rotas usuais e as estradas que se ligam a eles, não deixando que o inimigo os persiga e arme uma emboscada para atacá-los quando estiverem exaustos

XXIII. Quando forem perseguir alguma tropa inimiga que esteve perto de nossos fortes ou acampamentos, não os sigam diretamente em seus rastros; assim não poderão ser descobertos por seus vigias de retaguarda, que certamente estarão em alerta. Mas empenhem-se, por uma rota diferente, em alcançá-los e encontrá-los em algum estreito ou desfiladeiro, ou aguardá-los para uma emboscada quando eles menos esperarem.

XXIV. Se vocês precisarem embarcar em canoas, barcos ou equivalentes, por água, prefiram fazê-lo ao anoitecer; desta forma terão toda a noite para passar despercebidos por qualquer tropa inimiga que estiver em cima de um morro ou de outro local que os permita ter uma ampla vista do lago ou rio em que vocês se encontram.

XXV. Quando estiverem remando, dêem ordens para que o penúltimo barco ou canoa espere pelo último, e o antepenúltimo pelo penúltimo, e assim por diante, para prevenir qualquer separação ou dispersão; desta maneira, cada barco será capaz de auxiliar o outro no caso de alguma emergência.

XXVI. Elejam um homem em cada barco para ficar atento a eventuais disparos vindos das margens adjacentes, pelos quais, devido ao número e tamanho, vocês possam estimar quantos homens estão atirando e, assim, saber se serão capazes de atacá-los ou não.

XXVII. Se encontrarem os inimigos acampados próximos às margens de um rio ou lago que vocês imaginem que eles tentarão cruzar no intuito de ter maior segurança contra ataques, deixem um destacamento de sua tropa na margem oposta para recebê-los; enquanto isso, os homens restantes devem surpreendê-los, e assim terão os inimigos cercados entre vocês e a água.

XXVIII. Se vocês não estiverem seguros quanto ao número, à força ou ao poder de artilharia do inimigo, escondam seus barcos a uma certa distância e certifiquem-se dessas informações enviando um grupo de reconhecimento, descobrindo ainda quando eles embarcarão, ou marcharão, marcando o curso que eles tomarão etc., bem como quando vocês poderão persegui-los, emboscá-los e atacá-los, ou deixá-los passar, se a prudência assim os aconselhar. No entanto, geralmente é mais seguro, para que vocês não sejam descobertos pelo inimigo a uma grande distância, ficarem onde estão, com seus barcos e tropas escondidos por todo o dia, sem barulhos ou aparições, e continuar sua rota de perseguição à noite; e indo por terra ou por água, sempre dêem sinais uns aos outros, a fim de que se reconheçam no escuro; e, da mesma forma, elejam um ponto de encontro para que seus homens se restabeleçam no caso de qualquer acidente que possa vir a separá-los.

(Retiradas dos diários do major Robert Rogers, escritos em 1765, e citadas no livro White Devil, de Stephen Brumwell - tradução de Ana Elisa Camasmie)

sexta-feira, novembro 10, 2006

EUA devem retomar treinamento de militares na América Latina
Bárbara Slavinem Washington
Uma preocupação com vitórias da esquerda na América Latina levou o presidente Bush a discretamente dar permissão para os EUA voltarem a treinar militares de 11 países da América Latina e Caribe.
O governo espera que o treinamento crie laços com países na região e enfraqueça a tendência à esquerda. Daniel Ortega, inimigo americano na região nos anos 80, foi eleito presidente da Nicarágua nesta semana. Os bolivianos escolheram outro esquerdista, Evo Morales, no ano passado.A proibição de fornecer treinamento militar foi originalmente formulada para pressionar os países a isentarem os soldados americanos de julgamentos de crimes de guerra. A lei americana de 2002 proíbe os países de receberem assistência militar e treinamento caso se recusem a dar imunidade aos membros do serviço militar americano que de outra forma poderiam ser levados à Corte Criminal Internacional. A lei, entretanto, permite licenças presidenciais.A Casa Branca suspendeu a proibição em 21 países, a metade, aproximadamente, na América Latina e Caribe, por meio de um memorando presidencial no dia 2 de outubro para a secretária de Estado Condoleezza Rice. A proibição em dar armas aos países persiste. A venda de armas comerciais não foi afetada, diz Jose Ruiz, porta-voz do Comando Sul dos EUA.A proibição de treinamento custou a influência dos EUA. A questão ganhou urgência depois que uma série de candidatos de esquerda chegaram ao poder na América Latina. Rice disse em uma visita à região neste ano que o impacto da proibição foi o "mesmo que atirar no próprio pé".A China ocupou o espaço. Ruiz disse que a China "procurou todos os países da região de nossa responsabilidade", trocou militares de alta patente com Equador, Bolívia, Chile e Cuba e forneceu assistência militar e treinamento à Jamaica e à Venezuela.A proibição continua em vigor em alguns países. A Venezuela, cujo feroz presidente Hugo Chávez é crítico do governo Bush, continua inelegível porque consta de uma lista do Departamento de Estado de países que teriam permitido o tráfico de mulheres e crianças para exploração sexual e trabalho forçado. Cuba também está fora por causa de um longo embargo americano contra o regime de Fidel.Ruiz diz que esforços estão sendo feitos para que as verbas sejam transferidas neste ano e o treinamento de oficiais estrangeiros dos países aprovados seja iniciado no próximo ano. O treinamento será conduzido nos EUA.Países elegíveis: Barbados, Bolívia, Brasil, Costa Rica, Equador, México, Paraguai, Peru, São Vicente e Granadinas, Trinidad e Tobago e Uruguai.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Sobre a liberdade de imprensa

No dia em que a grande imprensa saiu em defesa da Veja, Emir Sader foi condenado por crime de opinião. Quem chama Lula de “bêbado” e “mentiroso” e defende a extinção da raça da esquerda está exercendo a liberdade de imprensa. Quem responde a tais xingamentos é condenado. De que liberdade estamos falando?

O juiz Rodrigo César Muller Valente, da 22ª Vara Criminal de São Paulo, condenou Emir Sader por injúria “à pena de um ano de detenção, em regime inicial aberto, substituída nos termos do artigo 44 do Código Penal por pena restritiva de direitos, consistente em prestação de serviços à comunidade ou entidade pública, pelo mesmo prazo de um ano, em jornadas semanais não inferiores a oito horas, a ser individualizada em posterior fase de execução”.

O crime cometido por Emir, segundo o juiz, foi ter chamado o senador Jorge Bornhausen (PFL-SC) de racista, em um artigo que comentava a declaração do dirigente do PFL que afirmou seu desejo de “ver-se livre desta raça por 30 anos”, referindo-se ao PT e à esquerda em geral. A sentença do juiz Valente também determina o afastamento de Emir da condição de professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Na avaliação do magistrado, Emir “valeu-se da condição de professor de universidade pública para praticar o crime”.

Contextualizando o que foi dito por Emir Sader não custa lembrar: em 2005, no auge da crise política, o senador Bornhausen não conteve a euforia diante dos episódios que atingiam o PT e expressou seu desejo de se “livrar desta raça por 30 anos”. O feitiço virou contra o aprendiz de feiticeiro. Quem resolveu se “livrar desta raça” foi o povo brasileiro que varreu o PFL dos governos estaduais.

O partido do sr. Bornhausen venceu apenas no Distrito Federal com o ex-tucano José Roberto Arruda. Em 1998, o PFL tinha seis governadores eleitos. Em 2002, caiu para quatro. Agora, ficou só com o Distrito Federal. Seus maiores fracassos este ano ocorreram na Bahia (com a derrota no primeiro turno do governador Paulo Souto para o petista Jacques Wagner), em Pernambuco (com a derrota de Mendonça Filho para Eduardo Campos, do PSB) e no Maranhão (com a derrota de Roseana Sarney). O desejo de Bornhausen virou maldição e ele viu seu partido minguar em todo o país. Agora, ele tenta obter uma vitória na Justiça contra Emir Sader. Deveria aproveitar e processar o povo brasileiro também, que resolveu escantear a "raça" pefelista.

O grito dos “independentes”
Enquanto isso, a Veja, a Folha de São Paulo e a Rede Globo, entre outros, protestam contra a ameaça à liberdade de imprensa no Brasil. E os escribas da direita de plantão seguem acusando e insultando lideranças da esquerda, dia e noite, sem que nada lhes aconteça. Lula já foi chamado inúmeras vezes de “bêbado”, “mentiroso”, “ladrão”, “corrupto”, apenas para citar os adjetivos mais leves. Qualquer menção a uma reação jurídica aos que emitem tais opiniões é imediatamente taxada de “ameaça à liberdade de imprensa”.

O editorial da Folha de São Paulo desta quarta-feira (1°) afirma: “Confirma-se o ceticismo a respeito da brandura que marcou a atitude da campanha de Lula para com a imprensa no segundo turno. Um verniz de humildade substituíra a arrogância, o desapego à prestação de contas e a truculência do petismo governista enquanto interessava ao cálculo eleitoral. Fechadas as urnas, setores da militância do PT puseram em marcha uma campanha que tenta intimidar meios de comunicação independentes”. Meios de comunicação independentes? Independentes do que e de quem exatamente? Nunca é demais lembrar alguns números sobre a concentração da mídia no Brasil.

O poder midiático no Brasil se concentra nas mãos de algumas poucas famílias e empresas. O maior grupo de comunicação do país, a Rede Globo, possui 227 veículos, entre próprios e afiliados. É o único dos grandes conglomerados que possui todos os tipos de mídia, a maioria dos principais grupos regionais e a única presente em todos os Estados brasileiros. A indústria televisiva domina o mercado da publicidade, detendo cerca de 56,1% de suas verbas. Em segundo lugar vêm os jornais, com 21,5%, as revistas com 10,6% e as rádios com 4,9%. Todos os outros veículos somados chegam a 6,9% do mercado publicitário. Sozinha, a Rede Globo detém mais da metade do mercado televisivo brasileiro.

Além do imenso poderio da Globo, outros seis grandes grupos regionais se destacam. A família Sirotsky comanda a Rede Brasil Sul de Comunicações, controlando o mercado midiático no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. A família Jereissati está presente no Ceará e em Alagoas. A família Daou tem grande influência no Acre, Amapá, Rondônia e Roraima. A mídia da Bahia pertence à família Magalhães. No Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, os negócios são controlados pela família Zahran. E, por fim, a família Câmara tem grande influência em Goiás, Distrito Federal e Tocantins. Segundo dados da Associação Nacional de Jornais, relativos ao período 2001-2003, apenas seis grupos empresariais concentram a propriedade de mais da metade da circulação diária de notícias impressas no país. Sozinhos, estes veículos respondem por cerca de 55,46% de toda produção diária dos jornais impressos.

Qualquer menção à necessidade de democratizar esse cenário é rebatida fortemente por artigos e editoriais destes grupos hegemônicos. Artigos como o publicado pelo colunista Merval Pereira nesta quarta-feira no jornal O Globo, que denuncia um “surto autoritário” por parte do governo Lula e do PT. “Que governo é esse que mal saído das urnas com uma consagradora vitória eleitoral precisa dar uma demostração de força contra a liberdade de imprensa?”, indaga o colunista. Logo em seguida, critica duramente a proposta levantada por Ciro Gomes no sentido de incentivar os meios de comunicação alternativos. “Essa solução oficial para incentivar uma mídia independente com dinheiro público, além de risível pela própria incoerência, tem precedentes históricos ruins: foi na CPI do jornal Última Hora, criado a partir de empréstimos generosos do Banco do Brasil para defender o governo de Getúlio Vargas, que surgiu a expressão mar de lama”, escreve Merval.

Para o colunista, o dinheiro público deve continuar indo apenas para o fortalecimento dos monopólios midiáticos já existentes. Ele esquece de mencionar os negócios generosos firmados entre a Rede Globo e a ditadura militar que ajudaram a transformar o grupo no que é hoje. Aí, para ele, não houve nenhum “mar de lama”. Talvez de sangue, não custa lembrar.

Uma das coisas mais constrangedoras, para dizer o mínimo, no jornalismo atual é ver jornalistas comprando integralmente a pauta das empresas onde trabalham como se ela expressasse um valor universal. Assim, vemos jornalistas indignados quando a linha editorial dos veículos onde trabalham é criticada, como se a crítica fosse dirigida a eles pessoalmente. A indigência cultural e política que grassa em boa parte das redações brasileiras é de chorar num cantinho. Mais triste ainda é ver quem está entrando no “mercado de trabalho” louco para arrumar um emprego na Globo, na Folha de São Paulo, na Veja, na RBS, etc.

O deslumbramento com a possibilidade do holofote só é inferior à vontade de subserviência e submissão a um trabalho acrítico e, muitas vezes, medíocre. Aqueles poucos, então, que conseguem um holofote maior transformam-se em verdadeiros relações públicas das empresas onde trabalham. E há aqueles, que para isso, não hesitam em fazer qualquer serviço que o patrão solicitar. Esse quadro só parece piorar, com o aumento da competição e a diminuição de espaços de trabalho.

A “ética” do cinismo
Não se lerá em nenhum veículo da chamada grande imprensa, por exemplo, a denúncia feita pelo desenhista gaúcho Santiago, que teve um trabalho seu publicado sem autorização pela revista Veja. Pior ainda, publicou mesmo tendo sido desautorizado a fazê-lo. É o próprio Santiago quem relata: “Dois dias antes da eleição (segundo turno), recebi um telefonema de um funcionário da redação da revista Veja pedindo autorização para usar este desenho. Respondi que não autorizava pois não concordava com a linha editorial da revista. Repeti que não gostaria de ver trabalho meu nesse momento histórico nas páginas dessa publicação. Pois no sábado fui à banca, abri a revista e lá estava a minha charge publicada na página de apresentação da edição. Mais do que usar um trabalho sem autorização, Veja usou um trabalho que havia sido verbalmente desautorizado pelo autor. Um belo exemplo da arrogância da grande imprensa”.

A julgar pelos argumentos utilizados por Veja, por Merval Pereira e pelo editorial da Folha de São Paulo, Santiago também estaria ameaçando a “liberdade de imprensa” ao protestar contra a atitude autoritária e ilegal da revista.

Em um artigo publicado nesta quarta no jornal Valor Econômico, intitulado “As suaves truculências da liberdade”, Luiz Gonzaga Belluzzo reproduz uma reflexão do pensador francês Paul Virilio sobre o papel da mídia no mundo contemporâneo. Uma reflexão que põe o dedo na ferida e indica o tamanho do problema a ser enfrentado:

“O filósofo Paul Virilio chegou a uma conclusão drástica: a mídia contemporânea é o único poder que tem a prerrogativa de editar suas próprias leis, ao mesmo tempo em que sustenta a pretensão de não se submeter a nenhuma outra. A justificativa para tal procedimento trafega entre o cinismo e a treva: uma vez afetada a liberdade de imprensa, todas as liberdades estarão em perigo. Cinismo, diz ele, porque esta reivindicação agressiva trata de negar o óbvio: os meios de divulgação e de formação de opinião vêm se concentrando, de forma brutal, no mundo inteiro, nas mãos de grandes empresas”.

Marco Aurélio Weissheimer é jornalista da Agência Carta Maior (correio eletrônico: gamarra@hotmail.com)