quinta-feira, abril 27, 2006

O que é o 1º de maio?

O ano era 1886, tudo corria de acordo com a época. As Condições indecentes de trabalho, salários miseráveis, jornadas desumanas e exploração do trabalho infantil caracterizavam a vida nas fábricas norte-americanas em meados do século 19, repetindo o "modelo" de relações sociais vigentes na fase inicial do capitalismo inglês. A jornada de trabalho, superior a 12 horas diárias, era imposta à margem da lei sancionada pelo presidente Lindon Johnson, sucessor de Abraham Lincoln.

As condições de vida eram péssimas e o salário - na melhor tradição do liberalismo - mal dava para reproduzir a mão-de-obra ou para satisfazer as necessidades elementares da família operária, razão pela qual os trabalhadores viam-se na contingência de encaminhar os filhos, ainda aos 7, 8 ou 9 anos de idade, para o trabalho duro em jornadas extenuantes, sacrificando o lazer e a educação.

As incipientes organizações operárias passaram a reivindicar dos patrões o respeito à lei, o fim do trabalho infantil e, principalmente, a redução da jornada para oito horas diárias e quatro horas aos domingos. Os patrões, irredutíveis, só aceitavam discutir a reivindicação se os estes aceitassem uma redução de 50% em seus salários. Não parece um argumento familiar à "modernidade"?

Neste contexto de exploração os trabalhadores de Chicago organizaram uma manifestação no dia 1º de maio. Vale lembrar que nos EUA a palavra “liberdade” tem um significado muito diferente daquilo que realmente é. Liberdade significa liberdade comercial, liberdade de exploração do trabalho, e não liberdade de expressão. Sendo assim, no 1º de maio de 1886 milhares de trabalhadores estadunidenses saíram às ruas pedindo melhores condições de trabalho. Mas a policia, a serviço dos donos das grandes empresas, reprimiu duramente as manifestações. Milhares de trabalhadores saíram feridos, quase cem foram mortos. Simplesmente por lutarem por mais igualdade, melhores condições de trabalho. Dessa maneira, o 1º de maio se tornou um marco na história mundial. Um marco da luta por justiça, da luta por dignidade.

O 1º de maio deveria servir para lembrar a luta dos trabalhadores, para que atrocidades como a de Chicago nunca mais ocorram. Mas as classes dominantes sempre buscam meios para impedir a conscientização popular sobre a exploração e a desigualdade. Sendo assim, hoje o 1º de maio toma um ar festivo. As organizações sindicais ao invés de promoverem manifestações por melhores condições, mais emprego e menos exploração, preferem premiar os trabalhadores como se tudo não passasse de um grande show.

Hoje as organizações sindicais não conscientizam mais os trabalhadores sobre o lucro que os patrões tem em cima dos trabalhadores. Muitas delas só servem para acalmar os trabalhadores quando estes se sentem indignados com a exploração do trabalho. A história foi esquecida, e está se repetindo. Este é o grande problema de um povo que não conhece a história (a história se repete mas não exatamente igual, pois a época não é a mesma). Hoje o liberalismo econômico prega o fim dos direitos trabalhistas conquistados depois de muitos anos de luta. Tudo para que os patrões (e não os empregados) tenham maiores lucros. Fim do 13º salário, fim das férias anuais, fim da carteira de trabalho, fim das garantias trabalhistas. Ou seja, a volta a uma época anterior ao 1º de maio de 1886. O neoliberalismo prega o fim de todos os direitos conquistados pelos trabalhadores.

Será também o fim da história?

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Meu, parabéns pelo espaço, pelos textos, tudo muito inteligente e bem elaborado.

Com certeza estarei aqui mais vezes....

Abraço,

Marília Rovaron

4:10 PM  
Anonymous Anônimo said...

simplesmente impecável eu como aluno de direito e adorador do direito do trabalho estou invejável dessa história e qero te dizer q existe sim pessoas com este pensamento no brasil.suas palavras finais foram tiradas de minha boca.abraços fui...

1:54 AM  

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