sexta-feira, junho 29, 2007

Famílias acusam polícia de matar inocentes no Rio

SERGIO TORRES
MÁRCIA BRASIL
da Folha de S.Paulo, no Rio
MALU TOLEDO
Colaboração para a Folha de S.Paulo, no Rio

Familiares de vítimas dos 19 mortos em ação no complexo do Alemão, na zona norte do Rio, acusaram a polícia de ter matado inocentes e feridos já sem possibilidade de reação. Três adolescentes de 13, 14 e 16 anos estão na lista oficial dos mortos por policiais.

Nove dos 19 mortos foram identificados. Ontem, a operação no Alemão completou 57 dias, somando 44 mortos, segundo o governo.

Na portaria do IML, parentes queixavam-se. Maria de Fátima de Paula disse que o filho Bruno de Paula Gonçalves, o Maluquinho, 20, foi assassinado por um policial que o retirou de uma casa, onde se escondera após receber o primeiro tiro.

Ela disse desconhecer se o filho era traficante, mostrou uma carteira de estudante dele e disse que o filho era catador de sucata, mas não garante o que ele fazia. "Quando um filho sai, a gente não sabe onde vai."

A família de David Souza e Lima, 14, disse que o menino era traficante. A irmã, identificada apenas como Tatiana, afirmou ter ouvido no hospital que sete tiros atingiram uma perna e cinco a outra. Os outros adolescentes mortos são Maxwell Vieira da Silva, 16, e Leandro Serrati Gualtero, 13.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), João Tancredo, baseado em relatos de moradores, disse que a polícia cometeu "um massacre de civis" durante a operação.

Em Londres, Patrick Wilcken, ativista da Anistia Internacional, criticou a ação, na BBC. "Foi uma operação violenta e caótica, mas, acima de tudo, de reação e não pró-ativa."

Tancredo, que percorreu o complexo de manhã, avistou pelo menos três traficantes com "armas longas". O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que participava de outro grupo de visita, também disse ter encontrado traficantes armados e nenhum policial.

O deputado falou até em mortos a facadas, embora não tenha indicado nomes.

O diretor do IML, Hélio Feldman, negou que tenha havido mortes por armas como facas e punhais. Segundo ele, todos os 19 morreram a tiros. Os laudos só serão divulgados na semana que vem.

A Secretaria de Segurança vetou a presença de um médico indicado pela OAB na perícia. O veto indignou Tancredo, que disse temer que laudos sejam forjados de modo a simular que as mortes ocorreram em tiroteios. Segundo ele, só oito dos 19 eram realmente traficantes.

O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, em entrevista, e a Chefia de Polícia Civil, por meio de nota, reafirmaram que as mortes ocorreram em confrontos. O governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) voltou ontem de Portugal, mas não deu declarações.