sexta-feira, junho 29, 2007

Estado de Guerra civil e a crise da modernidade material no Brasil















Moradores do Complexo do Alemão são presos pelo Exército
Será que voltamos a viver um regime de excessões?



Quando se fala em modernidade no Brasil logo se imagina o impulso tecnológico. A modernidade material está, e sempre esteve, em primeiro plano. Nunca é discutida a modernidade social. Tanto que em pleno século XXI, junto com os mais modernos processos tecnológicos ainda temos um Brasil medieval. Andarilhos caminham ao lado de carros importados, e os donos desses carros preferem fechar os olhos, fingindo não ver a desigualdade social que é a principal marca de nosso país. Temos uma industria agropecuária com tecnologia de primeiro mundo, com maquinários computadorizados e guiados por satélites, mas toda a produção é voltada para a exportação. Enquanto isso, milhões de brasileiros ainda morrem de fome todos os anos.
Milhões de brasileiros ainda são obrigados, em pleno século XXI, a vagarem de um lado á outro do país, como nômades em troco de emprego, ou melhor, a troco de um prato de comida.
Os ricos se fecham em seus luxuosos condomínios, que cercados, como castelos medievais, protegem os senhores feudais da pobreza do lado de fora dos muros. Criam centros de consumo e comércio que só eles próprios podem freqüentar, com aspectos que lembram os paises ditos de primeiro mundo. Enquanto aos pobres resta somente saquear as sobras de algum galpão do CEASA incendiado em troco de restos chamuscados de comida.Cria-se cada vez mais uma sociedade baseada na discriminação, não somente racial, mas sim social.
A classe média, consumista, crê na modernidade material, e que está irá salvar suas vidas da miséria que os cerca com novas técnicas de segurança. Mas não percebe que quanto menos perspectivas de vida tiverem os pobres mais a classe média estará ameaçada.
O impacto na modernidade material é desastroso, pois apenas uma minoria da população tem condições para comprar bens materiais. O restante da população vive em um constante clima de guerra civil disfarçada de combate ao crime. Já percebemos isso em grandes cidades, onde cada vez mais as campanhas antiviolência buscam ressaltar o valor da vida humana. Porém, essas campanhas só acontecem quando as vitimas da violência fazem parte da classe média. Algumas dezenas de jovens morrem por semana vítimas da violência nas grandes cidades e não entram nos noticiários por não serem filhos de gente influente, e nem fazem parte da classe média consumista. Ou seja, este processo de violência serve para limpar a sociedade dos “marginais” da sociedade, isto é o extermínio das pessoas que não fazem parte do mercado de consumo. Este é o holocausto brasileiro.
O holocausto brasileiro é esta guerra civil disfarçada. E a guerra civil já esta acontecendo. Podemos ver o exercito nas ruas de alguns grandes centros, e o exercito só pode ser acionado em casos de segurança nacional, de invasão externa ou em casos de guerra civil. O exercito esta matando nosso próprio povo porque as pessoas não conseguem perceber que o verdadeiro inimigo não é o pobre, favelado, marginalizado, mas sim o sistema que exclui, que explora e que legitima que só uns poucos tenham o direito a vida.
Guerra Civil no Rio de Janeiro
se intensificará durante o Pan












No dia 13 de julho, tem início os Jogos Panamericanos 2007, no Rio de Janeiro. Um grande show midiático vem sendo armado, desde o ano passado, em torno da realização do evento, com direito a eleição do nome do mascote dos Jogos e muitos minutos diários nos telejornais mais vistos do Brasil.
Mas, ao contrário do que se quer promover, os Jogos Panamericanos não têm trazido só festa e esporte para a cidade. Os problemas que envolvem a realização do Pan são inúmeros e estão menos ligados ao atraso das obras do que à vida cotidiana dos moradores e moradoras de favelas e comunidades pobres da cidade.
A segurança tem sido o assunto mais importante, não apenas para os organizadores do evento, mas principalmente para aqueles que tem sofrido com os investimentos bilionários: os moradores/as de favelas. Desde o início do ano, as operações da Polícia Militar tem se intensificado, com o auxílio ainda da Força Nacional de Segurança, que veio especialmente para o Panamericano. Um exemplo - não o único, mas o que mais tem ocupado os noticiários - é o caso do Complexo do Alemão (veja mais I e II III), onde as aulas das escolas da região foram paralisadas e mais de 20 pessoas já morreram. Mas ao contrário do que a mídia corporativa propaga, o cerco ao local não intimida o tráfico, e "sem prisões ou apreensões de armas ou drogas, o que se conseguiu até agora foi vitimar moradores, atingidos pelas chamadas 'balas perdidas'".
Como se a situação já não fosse trágica o suficiente, durante os Jogos, o Rio de Janeiro estará sob Estado de exceção. Isso significa que nenhuma manifestação pública poderá ser feita sem o aval da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública). Além disso, agentes secretos de diversos países (incluindo a CIA, dos Estados Unidos) estarão auxiliando nesta tarefa. A própria Abin afirmou que organizadores "profissionais" de manifestações podem ser monitorados durante o tempo todo.

Famílias acusam polícia de matar inocentes no Rio

SERGIO TORRES
MÁRCIA BRASIL
da Folha de S.Paulo, no Rio
MALU TOLEDO
Colaboração para a Folha de S.Paulo, no Rio

Familiares de vítimas dos 19 mortos em ação no complexo do Alemão, na zona norte do Rio, acusaram a polícia de ter matado inocentes e feridos já sem possibilidade de reação. Três adolescentes de 13, 14 e 16 anos estão na lista oficial dos mortos por policiais.

Nove dos 19 mortos foram identificados. Ontem, a operação no Alemão completou 57 dias, somando 44 mortos, segundo o governo.

Na portaria do IML, parentes queixavam-se. Maria de Fátima de Paula disse que o filho Bruno de Paula Gonçalves, o Maluquinho, 20, foi assassinado por um policial que o retirou de uma casa, onde se escondera após receber o primeiro tiro.

Ela disse desconhecer se o filho era traficante, mostrou uma carteira de estudante dele e disse que o filho era catador de sucata, mas não garante o que ele fazia. "Quando um filho sai, a gente não sabe onde vai."

A família de David Souza e Lima, 14, disse que o menino era traficante. A irmã, identificada apenas como Tatiana, afirmou ter ouvido no hospital que sete tiros atingiram uma perna e cinco a outra. Os outros adolescentes mortos são Maxwell Vieira da Silva, 16, e Leandro Serrati Gualtero, 13.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), João Tancredo, baseado em relatos de moradores, disse que a polícia cometeu "um massacre de civis" durante a operação.

Em Londres, Patrick Wilcken, ativista da Anistia Internacional, criticou a ação, na BBC. "Foi uma operação violenta e caótica, mas, acima de tudo, de reação e não pró-ativa."

Tancredo, que percorreu o complexo de manhã, avistou pelo menos três traficantes com "armas longas". O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que participava de outro grupo de visita, também disse ter encontrado traficantes armados e nenhum policial.

O deputado falou até em mortos a facadas, embora não tenha indicado nomes.

O diretor do IML, Hélio Feldman, negou que tenha havido mortes por armas como facas e punhais. Segundo ele, todos os 19 morreram a tiros. Os laudos só serão divulgados na semana que vem.

A Secretaria de Segurança vetou a presença de um médico indicado pela OAB na perícia. O veto indignou Tancredo, que disse temer que laudos sejam forjados de modo a simular que as mortes ocorreram em tiroteios. Segundo ele, só oito dos 19 eram realmente traficantes.

O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, em entrevista, e a Chefia de Polícia Civil, por meio de nota, reafirmaram que as mortes ocorreram em confrontos. O governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) voltou ontem de Portugal, mas não deu declarações.